sábado, 9 de outubro de 2010

[ Conto de Nadas, O9.1O.2O1O ]

Era uma vez uma mulher que sonhava alto, tinha o coração de manteiga,
Chorava com comerciais bobos e nunca tinha encontrado o real significado de "AMOR" até então..
Um belo dia de sol, ela encontrou seu grande amor, finalmente,
Mas ainda não sabia disso até uns bons 2 anos depois.

Eles ficaram incontáveis vezes e descobriram que estavam apaixonados.
Durante alguns meses viveram um amor à primeira vista, romance de novela mesmo.
Não conseguiam se desgrudar,
Passavam horas a fio no telefone todos os dias só ouvindo a respiração um do outro,
Coisa de conto de fadas ultramoderno, bem por aí..
A mulher, muito fechada e cuidadosa, tranferia seus sentimentos para textos..
Querendo se 'livrar' um pouco do peso da estranha sensação de vazio quando ele não estava por perto. Ela nunca havia sentido aquilo.
Até um certo momento, ela só imaginava, sonhava e escrevia sobre o que PODERIA ser o tal AMOR.

E por ser tão fechada assim, ela era muito cautelosa quanto a deixar o sentimento se instalar.
Por isso ela procurava novos horizontes, novos corpos, novas mentes..
Mas da mente DELA, ELE nunca saía..
Com suas promessas, palavras bonitas, voz sedutora, lindos olhos..Era tarde, ele se instalara nos pensamentos dela, conseguira o que NINGUÉM havia conseguido:
Fazê-la se apaixonar..
Era tarde, ela estava louca, descontrolada, perdida e incansavelmente apaixonada.
E não doía tanto quanto ela imaginava, não era tão ruim assim, afinal.

E foi pensando assim que a tal mulher se deixou levar pelo novo vento.
Assim, bem único, só ele, só dela.
E deixando cada vez mais o sentimento PAIXÃO preencher seu coração..
A mulher foi afundando no seu próprio conto de fadas..
Até que em um dia nublado, incrível como o tempo sempre acompanhava o que acontecia na vida dos dois, ela precisou ir um pouco mais a fundo, por certos motivos, e descobriu coisas que confundiram sua mente e machuram enquanto seus olhos prendiam as lágrimas que insistiam em tentar descer.
Mas ela não chorou, ela não se entregou.
Disse tudo o que tinha pra falar, abriu seu coração, mostrou à ele o sentimento que ela escondia.
Mostrou a ele que ele não precisava ser tão inseguro, que ele não precisava tentar ser o que tentava ser.
Ela só queria ele, afinal, foi por ELE que ela se apaixonou, JUSTO por ele.

E feito isso, ela resolveu relevar esse primeiro baque, esse primeiro espinho.
Ela não queria, não podia matar aquele broto de sentimento tão gostoso..
Que fazia ela se sentir tão bem, tão segura.
Seguiu a vida, com uma cicatriz no coração e um cadeado na parte do cérebro que guarda as coisas ruins..
Sendo assim, conseguiu jogar aquela mágoa pra longe e recomeçou a crescer a paixão
E ela voltou a se sentir feliz com o passar dos meses.

Começou a deixar suas vontades de lado, começou a entender o que é agradar alguém..
Começou a fazer as coisas como deveriam ser, como muitos queriam que tivesse sido com eles.
E ela ficava feliz com isso, com o sorriso de agradecimento, com os olhares notando-a como ela desejou, com as lágrimas de felicidade por se sentir VIVA, se sentir AMADA, pelos intermináveis textos apaixonados que brotavam na sua cabeça cada vez que ela o olhava.
Ela podia bater no peito e gritar que era a mulher mais feliz que seria verdade, seria a mais pura verdade dita por ela.
E ela se sentia encantada, por conhecer o novo, se adaptar à ele e gostar de tê-lo no peito.
Ela gostava disso, se sentia suprida de qualquer coisa enquanto levava esse sentimento guardado.

Não importava o lugar, nem a circunstância..
Ele sempre vinha na cabeça e sempre se moldava aos planos imaginários dela.
Aquele era seu refúgio, sua própria mente, seu próprio conto de fadas, uma história contada por ela, para ela e que ninguém poderia apagar nem modificar, que só ELE poderia saber.
E ele alimentava isso.
Ele gostava disso, ele também era feliz ao lado dela.
Quando ela chorava, ele a abraçava e secava suas lágrimas..
Quando ela estava cansada, ele a embalava em seu colo e a ninava..
Quando ela queria dar carinho, ele vinha igual um gatinho manhoso e deitava em seu colo.
"Por quê esperar mais ?" pensava ela..
E logo ela o pediu em namoro, com direito a aliança e tudo mais.
Eles eram o casal dos sonhos, o exemplo para qualquer casal na rua, para qualquer um dos amigos dela. O imperfeito mais perfeito, brigas, beijos, desejo, tentação, carinho, chateação, extresse, alívio.. AMOR.

E o tempo foi passando, as mágoas começaram a não importar mais.
Ele conquistara o coração fechado dela, ele já se instalara em sua mente e agora dominava os sentimentos. Estava feito ! Ela estava amando.
Não existia mais ninguém, ela não queria mais ninguém, não olhava pra mais ninguém, não PENSAVA em mais NINGUÉM.
Era só ele, ele, ele e ele. E pra ela estava bom assim.
Ele proporcionava tudo à ela mesmo, ninguém mais faria falta anyway.

Ele tinha tudo dela agora:
Amor, paixão, desejo, confiança, carinho, olhos, pernas, boca, mente, pensamentos, ilusões, tudo.
Tudo que ela poderia oferecer ? Pra ele, ela oferecia cada vez mais o seu melhor !
E assim foi seguindo o conto de fadas deles dois, cada vez mais forte, cada vez mais feliz, cada vez mais CEGO. Cego sim, pois ela havia se esquecido do primeiro espinho, daquele que doera tanto,
Daquele que quase a fez desistir do novo sentimento.

Mas algo aconteceu que a fez lembrar desse incômodo espinho..
Algo que a fez perder o fôlego e a confiança e deixou o medo de instalar lado a lado do retrato Dele. O segundo baque fez esse espinho chato de transformar numa faca, rasgando seu coração,
seus sentimentos e interferindo em seu conto de fadas imaginário tão meticulosamente montado.
Nesse ponto a história se repete. Em um dia nublado..
O segundo baque foi exatamente igual ao primeiro, o que só fez doer mais.
Ela não conseguia entender, da onde vinham tantas perguntas, como ela iria respondê-las ?
"Será que era mesmo tudo só uma ilusão ? Será que ele não se importa com os meus sentimentos ?
Por que ele fez isso de novo, sabendo que me machucaria ?
Por que ele insiste em dizer uma frase que pra mim já não faz sentido ?"
Milhares de dúvidas pipocavam em sua cabeça e ela já não conseguia mais pensar.
Quando as palavras EU TE AMO saíam da boca dele, já não tinham mais significado algum para ela, já não eram mais verdadeiras como ela imaginara.

E agora ? O que fazer ?
Era tudo o que ela queria saber.
Terminar o namoro, foi a única solução.
"Ele precisa saber que pode me perder fazendo isso !" pensava ela a todo instante..
E mesmo com o coração na mão, ela terminou o namoro, segurou as lágrimas e isolou a dor em um cantinho que ela não pudesse se manifestar.
Mas o sentimento falou mais alto, mais uma vez, e ela relevou.
Segurou a faca bem firme para que ela não pudesse mais rasgar o que restara de seu coração e mais uma vez seguiu a vida.
Tentando cada dia mais reconstruir o seu castelo do seu conto de fadas, ela voltou a confiar nele, com pé atrás, mas sabe como é !
O amor. Ah, o amor.. nos deixa tão idiotas.
E não foi diferente com ela, a deixou quase cega novamente.
Seu castelo estava remendado, tinha as paredes frágeis e cheias de rachaduras, assim como seu coração.
Ela segurava firmente os pensamentos, as lembranças, tanto boas quanto ruins, para não bater novamente a dor do "NÃO FOI REAL".
"Agora vai ser diferente".
Ela se segurava nessa frase como se seguraria numa corda à beira de um penhasco.

Passaram por uma fase muito ruim, mas nada que o tempo não ajudasse e MAIS_UMA_VEZ o sentimento foi se apoderando de seu coração, empurrando o medo para um cantinho apertado e dando a mãos a confiança que ficava mais forte a cada dia..
Mas nada poderia ser como antes, constantemente aquela faca escapava das mãos dela e arrancava uma lasca de seu pobre coração, machucando o sentimento e fazendo a confiança escorregar..
Mas a mulher não ligava, agora tinha começado uma fase boa.
Repleta de carinhos e risos, desejos e brincadeiras.
Tudo estava de volta ao normal e ela poderia tentar ser feliz como havia sido vivendo uma mentira. Ela poderia fazer virar realidade e era isso que ela iria fazer.
Controlando os mimos, dosando o tesão, jogando pitadas de muito carinho e finalizando com risos, sorrisos e gargalhadas.
Essa era sua rotina, controlar o sentimento DEMAIS que havia nela e DE MENOS que havia nele, ela precisava colocar tudo na balança.
Precisava igualar os dois para poder viver em harmonia e conseguir o que tanto desejava desde que o conheceu:
Amor DE VERDADE.

Assim se seguiu os dias, os meses, fizeram um ano juntos e tudo estava bem.
Claro que ainda tinham aquelas espinhadas sempre que ele falava com alguém que tinha participação em algum dos baques.
Ela simplesmente não conseguia entender o por que dele ser tão egoísta em relação a isso, ele sabia que machucava a ela.
Assim como machucou a ele antes do primeiro baque.
Enquanto ela ainda não havia admitido o sentimento para com ele.
Mas tudo era relevado, ela queria ele.
E tinha sido ele desde o primeiro momento, foi ele quem conseguiu fazer esse sentimento de perdão, de paixão, de amor brotar.
Isso deveria significar alguma coisa não ?
Sim ! Pra ela significava muita coisa, muito mais do que ele ou ela, ou qualquer um pudesse imaginar.
O que ELE fez surgir, era raro, ela puro, era verdadeiro, era maravilhoso, era infinito pelo tempo que durasse o pra sempre deles.

Infelizmente, o sentimento dela não importava muita coisa..
Nem pra ele, nem pro destino, nem pra ninguém além dela mesma.
E em um dia frio e com umas leves gotas pesadas de chuva veio o terceiro baque e destruiu o conto de fadas.
Aquele que despedaçou, bagunçou, desiludiu, enlouqueceu, desesperou, congelou, amedrontou, apavorou e fez a mulher se transformar em menina mediante a grandeza da dor que sente.
Uma dor tão profunda que nem existe mais dor, imagino que tenha matado tudo dentro dela.
O silêncio dele faz doer mais que a traição. O descaso, o ''está tudo bem'', o nada.
A falta de sentido não existe mais, o amor que ela achava ser recíproco, mesmo que de uma maneira estranha, não existe mais, nada existe mais.
Nunca existiu.

Ela nem sabe mais quem é.
Ela mudou tudo por um amor que nunca existiu, então ela mudou baseada em nada ?
Que mudança é essa que não resulta em nada ?
Quem foi que inventou a dor ? Por que ela sente tanta dor ?
Por que o eu te amo de mentirinha não é mais escutado da boca dele ?
Por que não saem mais palavras de verdade ? Por que nada foi verdade ?

Ela desconhece todas as formas, estranha todas as palavras, não acredita mais em sua mente, maldito conto de fadas. A menina hoje sofre pelo amor que nunca teve.
Ela sente falta do carinho que ele nunca deu, dos beijos que ele deixou faltar, do abraço apertado da saudade que ele nunca sentiu e do EU TE AMO que preenchia o coração dela de mágoas e ilusões. A pergunta da vez é POR QUE ?
Por que ela se apaixonou por alguém que não sabe quem é ?
Por que ela se deixou levar, por que ela está tão congelada que não se importa mais com o que possa vir de bom ?
Por que ela imaginou demais ?
Por que ela tem que passar por isso ?
Por que logo ele, o príncipe encantado ?
O toque a qualquer coisa faz as mãos dela tremerem.
O cheiro de qualquer coisa, deixa ela indignada.
Por que as coisas parecem tão fortes e agressivas agora ?
Por que não vem logo o sol pra expulsar essa chuva fria da vida dela ?
Por que ela simplesmente não deixa ele ir e dá um fim nisso ?
É bem simples trocar um sofrimento contínuo por um temporário.

Ela sabe que o horizonte não parece tão bonito agora.
Ela não suspira aliviada e feliz quando olha pro céu agora.
Ela não dá mais BOM DIA à tudo agora.
Ela não se sente amada agora, não mais.
A culpa é do EU TE AMO verdadeiro dela.
Ela o ama, simples e irreversível.
Ela sabe que não acredita em nada do que ele diz sentir, mas ela ainda quer escutar as palavras, só por que são dele.
Ela sabe que não tem sentimento nenhum ligando ele à ela, mas o sentimento dela continua um elo forte preso firme à memória dele.
Ela sabe que o vazio que ele proporciona a ela dói, mas ela não quer se sentir vazia sem o vazio DELE.
Ela simplesmente sabe que nada mais é verdadeiro, mas o conto de fadas parece tão atraente agora.
Conto de fadas inexistente, conto de nadas.

O conto de fadas acabou agora.
Não há mais fantasias na mente sonhadora dela, não há mais beijos sinceros..
Não há mais.. Nada.
E mesmo assim, ela persiste e não desiste..
Por que ele é importante pra ela, mais do que qualquer dor, mais do que qualquer amor, mais do que o conto de nadas.
Nem ela entende o que, o por que ainda estar com ele, ainda amar ele irrevogavelmente.
E só ela sabe a dor de ser lembrada todo dia pelo seu coração furioso e despedaçado do peso que é amar alguém, nessa proporção,
Que nem sequer pensa nela, que nem sequer se importa com ela, que nem gosta dela..
Que mente e mata ela, que brinca e destrói ela.
E só ela sabe o quanto seus olhos ardem quando ele a abraça e ela SABE que não é sinceramente.
Ela culpa o conto de nadas, por que ela precisa culpar alguém.

Não é culpa dele.
Quem AMA, nunca trai. Quem AMA, não magoa. Quem AMA, se importa..
E ele não ama, nem se apaixona, nem gosta.
Ele só quer estar junto.. Ela foi quem imaginou demais.
Ela foi quem montou seu conto de nadas indestrutível destruído.

Princesa de um castelo imaginário, presa em um mundinho dos sonhos..
Cheia de atitudes que não foram tomadas, encantada com palavras que não foram ditas.
Agora ela sabe como dói ser a personagem de uma história que foi escrita com pensamentos
E concretizada por suspiros imaginários.
Ela sonhou com alguém que ele não era.
Se apaixonou por uma mentira e se deita todas as noites com alguém que ela não sabe quem é.

Apesar de tudo isso, EU vou persistir e não vou desistir.
Se ELE conseguiu fazer o amor nascer em MIM, eu POSSO fazer nascer nele.
A minha verdade é tão grande e turrona quanto a mentira dele e o MEU amor é maior do que essa dor vazia que eu sinto todos os minutos no meu peito.
Já passei por coisas demais, já superei coisas demais, já perdi coisas demais pra perder a base desse sentimento.
Foda-se esse conto de nadas, aprendo a viver com o vazio.
Esse amor é grande demais pra deixar desperdiçar assim.
Adeus, conto de fadas mentiroso.

Olá, realidade dolorosa e vazia.



[ Foto perfeita. Perfeitamente retratado o meu melhor estado de espírito no momento. ]


Mande lembranças aos contos de nadas alheios da princesa do castelo invisível.